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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
Disruptores Endócrinos (DE)
Os disruptores endócrinos são produtos químicos sintetizados artificialmente e os fitohormônios (estrogênios naturais produzidos por plantas ou metabólitos de fungos) que atuam sobre o sistema endócrino dos animais e humano. Por mecanismos fisiológicos, os disruptores endócrinos agem substituindo os hormônios, ou bloqueando a sua ação natural, ou ainda, aumentando ou diminuindo a quantidade original de hormônios, alterando as funções endócrinas (SANTAMARTA, 2001). Os disruptores podem ser substâncias orgânicas ou inorgânicas. Seu uso pode se dar tanto em áreas urbanas ou rurais, e podem aparecer como resíduos ou subprodutos derivados de usos industriais dos mais diversos. São encontrados em depósitos de lixo, contaminando solo, lençóis freáticos, mananciais de água e, ainda, pela queima de resíduos hospitalares e industriais em incineradores. Os disruptores agem dentro do sistema endócrino, podendo até interromper o próprio mecanismo hormonal. A suspeita é que eles possam causar distúrbios na síntese, secreção, transporte, ação ou na eliminação de hormônios. Alguns dos componentes que agem como disruptores são utilizados pelas indústrias e estão presentes em protetores e filtros solares, agrotóxicos, panelas e embalagens plásticas.
Os chamados disruptores endócrinos não são venenos clássicos, eles interferem no sistema hormonal, sabotando as comunicações e alterando os mensageiros químicos que se movem, permanentemente, dentro do corpo. Como resultado, estar-se sujeito a um conjunto de efeitos maléficos à saúde, o que inclui anormalidades sexuais em crianças e adultos, e nos homens, as pesquisas mostraram a redução drástica do número de espermatozoides no sêmen.Vale lembrar que a ação hormonal ocorre devido à presença das moléculas receptoras sempre "ancoradas" na membrana das células dos tecidos alvos. Os hormônios, em geral, quando se ligam aos seus receptores induzem modificações na estrutura molecular dos mesmos. O que permite a interação do receptor com outros "mensageiros" situados no interior da célula que desencadeiam as reações moleculares intracelulares para que a célula alvo exerça sua função. Muitas dessas interações intracelulares são mediadas pelos nucleotídeos cíclicos (AMP, GMP, ATP, etc), que por isso também são denominados de "segundo mensageiro", ou seja, são os elos de conexão entre os receptores e outras moléculas que precisam ser "ativadas" intracelularmente.
Os disruptores endócrinos interferem no funcionamento do sistema hormonal, mediante algum dos três mecanismos:
· Substituindo os hormônios naturais;
· Bloqueando a ação hormonal;
· Aumentando ou diminuindo os níveis de hormônios naturais.
Ação dos disruptores na célula.
Video: Disruptores Endócrinos
As substâncias químicas disruptoras endócrinas não são venenos clássicos, nem carcinogênicos típicos. Funcionam por regras diferentes. Nos níveis em que se encontram normalmente no nosso ambiente, as substâncias químicas disruptoras hormonais não matam células nem atacam o ADN. Seu objetivo são os hormônios, os mensageiros químicos que se movem constantemente dentro da rede de comunicação do corpo. Muitas destas substâncias são persistentes no meio ambiente, acumulam-se no solo e no sedimento de rios, são facilmente transportadas a longas distâncias pela atmosfera de suas fontes. Acumulam-se ao longo da cadeia trófica, representando um sério risco à saúde daqueles que se encontram no topo da cadeia alimentar.
Durante milhares de anos, os organismos dos animais e humanos sofreram adaptações para interagirem com os disruptores endócrinos naturais, encontrados em vegetais, cereais e frutas. Contudo, estes disruptores não conseguem se acumular em nosso corpo e são excretados de forma natural. Mas isto não ocorre em produtos químicos que mimetizam os hormônios do nosso corpo, pois tais produtos se acumulam em tecidos gordurosos, não são eliminados e passam a agir como se fossem os hormônios segregados pelas glândulas, “tomando”o seu lugar e alterando o funcionamento normal.
Os exemplos mais comuns de DE são:
· Agrotóxicos;
· Pesticidas;
· Metais como: mercúrio, cobre e chumbo (presentes em pilhas e baterias);
· Plastificantes como o bisfenol A (BPA) e ftalatos, usados frequentemente em potes de plástico domésticos;
· DDT, etc.
Um grande número de substâncias químicas artificiais que foram colocados no meio ambiente, assim como algumas substâncias naturais, tem o potencial para perturbar o sistema endócrino dos animais, inclusive os dos seres humanos. Entre elas se encontram substâncias persistentes, bioacumulativas e organohalógenas, que incluem alguns agrotóxicos (fungicidas, herbicidas e inseticidas) e as substâncias químicas industriais, outros produtos sintéticos e alguns metais pesados. Muitas populações de animais já foram afetadas por estas substâncias, entre estas repercussões, figuram:
· Disfunção da tireóide em aves e peixes;
· Diminuição da fertilidade em aves, peixes e crustáceos e mamíferos;
· Diminuição do sucesso da incubação em aves, peixes e tartarugas;
· Graves deformidades de nascimento em aves, peixes e tartarugas;
· Anormalidades metabólicas em aves, peixes e mamíferos;
· Anormalidades de comportamento em aves;
· “Desmasculinização” e“feminilização”de peixes, aves e mamíferos machos;
· “Desfeminilização” e“masculinização” de peixes e aves fêmeas;
· Perigo para os sistemas imunológicos de aves e mamíferos.
Bowler & Cone (2001) explicitam que, a exemplo do chumbo, muitas dessas substancias disruptoras endócrinas são transplacentárias, conseguindo atravessar a placenta durante a gestação e consequentemente atingem o feto causando reações adversas ao feto. Entre os mais diversos efeitos dos disruptores endócrinos está o aumento dos casos de câncer de testículo e de endometrioses, uma doença na qual o tecido que normalmente recobre o útero se desloca, para o abdome, os ovários, a vagina ou para o intestino, provocando crescimentos que causam dor, abundantes hemorragias, infertilidade e outros problemas. O sinal mais espetacular e preocupante de que os disruptores endócrinos podem já ter cobrado um alto preço se encontra nos relatórios que indicam que a quantidade e mobilidade dos espermatozóides dos homens caíram.
Disruptores Endócrinos e Obesidade
Estrogênios Ambientais
O metabolismo do tecido adiposo encontra-se sob o controle do sistema nervoso simpático e é modulado pela ação de vários hormônios, dentre eles, os esteróides sexuais. Estudos recentes demonstraram que ratos expostos a um estrógeno sintético, o dietilestilbestrol (DES), no período neonatal apresentaram aumento do peso corporal com excesso de gordura abdominal na idade adulta, além de elevações nos níveis de adiponectina, IL-6 e triglicerídeos nos camundongos expostos.
Postula-se que, quando o organismo passa a sofrer a ação dos estrógenos ambientais (EA), ocorre uma modulação direta da lipogênese, da lipólise ou da adipogênese, com impacto direto sobre a obesidade. Além disso, os EA atuam indiretamente no sistema nervoso central (SNC) e no fígado, aumentando o consumo alimentar, reduzindo a secreção de leptina e a homeostase hepática dos lipídeos.
PPARγ e Organtinas
PPARγ (Peroxisome Proliferator-Activated Receptor) constitui um importante regulador da adipogênese. Ele faz parte da superfamília de receptores nucleares e é expresso principalmente no tecido adiposo. Sua ativação promove a diferenciação dos adipócitos, bem como a ativação de enzimas lipogênicas, contribuindo também para manutenção da homeostase metabólica através da transcrição e ativação de genes envolvidos no balanço energético.
O PPARγ é alvo molecular de vários DE, principalmente compostos organoestânicos ou organotinas, como tributilestanho (TBT) e trifenilestanho, que têm sido amplamente utilizados na agricultura e na indústria. As organotinas atuam como agonistas do PPARγ, estimulando a diferenciação dos adipócitos e o aumento da gordura corporal. Em altas doses, o TBT pode inibir aromatase presente no tecido adiposo, levando à diminuição dos níveis de estradiol e uma down-regulation dos genes que codificam os receptores estrogênicos. Em doses moderadas a altas, inibe a atividade de 11β-hidroxiesteróide desidrogenase 2, causando uma redução da inativação do cortisol. Consequentemente, os níveis mais elevados de glicocorticóides podem influenciar nos últimos estágios da diferenciação dos adipócitos e na regulação metabólica.
Fitoestrógenos
A exposição aos fitoestrógenos aumentou nos últimos anos, principalmente pelo crescente consumo de soja e seus derivados. A genisteína, principal isoflavona da soja, tem várias ações biológicas, dentre essas a capacidade de se ligar a receptores estrogênicos (α e β). Contudo, ela também exibe ação antiestrogênica. Em baixas concentrações, atua como um análogo estrogênico, exercendo efeito inibitório sobre a lipogênese. Em concentrações elevadas, promove a lipogênese através da via molecular do PPARγ e de uma via independente dos receptores estrogênicos. As ações da genisteína também diferem de acordo com o sexo, atuando de forma distinta na deposição do tecido adiposo e na presença de resistência à insulina em homens e mulheres.
Disruptores Endócrinos e o Metabolismo da Glicose
Estudos epidemiológicos relacionaram níveis elevados de dioxina (um solvente orgânico altamente tóxico utilizado no dicloro-difenil-ticloroetano - DDT) com distúrbios no metabolismo da glicose e risco aumentado de diabetes. Alguns estudos em modelos animais também apoiam essa hipótese. Foi realizado um experimento in vivo para avaliar o impacto do Bisfenol-A (BPA) na função das células pancreáticas. Os resultados mostraram que o BPA causou hiperinsulinemia temporária agudamente, enquanto que, em longo prazo, a exposição provocou resistência à insulina (RI) e risco aumentado de desenvolvimento de Diabetes Mellitus. Em doses elevadas, o BPA inibe a secreção de adiponectina também, aumentando o risco de desenvolvimento de RI. Em doses baixas, o BPA prejudica a sinalização molecular que leva à secreção de glucagon. O mesmo mecanismo é observado com a DES. Contudo, mais estudos são necessários para elucidar melhor esses mecanismos em humanos.
Bibliografias
Bila, D. M.; Dezotti, M. Desreguladores endócrinos no meio
ambiente: efeitos e consequências. Quím. Nova vol.30 no.3 São Paulo May/June
2007. Disponivel em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-40422007000300027&script=sci_arttext>
Acessado em 5 de Dezembro de 2012
Guimarães,
J. R. P. de F., Disruptores endócrinos no meio ambiente: um problema de saúde
pública e ocupacional. Disponível em
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/trabalhador/pdf/texto_disruptores.pdf>
Acessado em 08 de Dezembro 2012.
Revista da ABESO » Edição nº 42 -Ano VIX - Nº 42 -
Nov/2009 » Artigo - Obesidade e Disruptores Endócrinos.
SANTAMARTA, José. A ameaça dos disruptores
endócrinos. Revista Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável,
Porto Alegre: v.2, n.3, jul.2001.
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