Os
manguezais são ecossistemas particulares e únicos que se originam do encontro
da água salgada do mar e a água doce de diversas fontes, formando uma água
salobra, acontecendo em todo o planeta em regiões de clima tropical. Os manguezais
se formam exclusivamente nas regiões costeiras e a salinidade das suas águas é
variável em cada região. A legislação ambiental do Brasil protege as áreas de
manguezais, pois eles são considerados de grande importância para a vida
marinha, servindo como berçário natural para diversas espécies marinhas, rota
migratória para diferentes espécies de aves, além de oferecer abundante
alimento para peixes e aves além de matérias orgânicas e nutrientes que
enriquecem as águas marinhas. No Brasil, os manguezais ocorrem desde o Cabo
Orange no Amapá, até a cidade de Laguna em Santa Catarina. No passado, a
extensão dos manguezais brasileiros era muito maior: muitos portos, indústrias,
loteamentos e rodovias costeiras foram desenvolvidos em áreas de manguezal. Os
manguezais não são muito ricos em espécies, porém, destacam-se pela grande
abundância das populações que neles vivem. Por isso podem ser considerados uns
dos mais produtivos ambientes naturais do Brasil.
Devido à riqueza de matéria orgânica disponível, uma grande variedade de seres vegetais e animais irão utilizá-la: centenas de diferentes tipos de minúsculos seres, denominados plâncton. A fração vegetal do plâncton, denominada fitoplâncton, retira os sais nutrientes da água e, através da fotossíntese, cresce e se multiplica. Agora, a porção animal do plâncton, o zoo-plâncton, alimenta-se das microalgas do fitoplâncton e de matéria orgânica em suspensão. Larvas de camarões, caranguejos e siris filtram a água e retiram microalgas e matéria orgânica. Pequenos peixes filtradores, como a manjuba, também se alimentam desse rico caldo orgânico. A partir das microalgas, se estabelece uma complexa teia alimentar.
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Pneumatóforos |
Poucas plantas estão aptas a sobreviver em um local inundado pelo mar e com pouco oxigênio, mas isso não impede que florestas cresçam na água salobra. Os manguezais têm diferentes tipos de árvores, como o mangue vermelho (Rhizophora mangle), mangue branco (Laguncularia racemosa), mangue preto (Avicennia sp) e o mangue botão(Conocarpus erectus). Em apenas cinco anos, uma árvore de mangue fica adulta e reproduz, podendo chegar a 20 metros de altura. Suas raízes são capazes de passar períodos ficando cobertas pela água do mar e conseguir o oxigênio que não encontram no solo. É o caso das raízes chamadas 'pneumatóforos', que deixam uma ponta fora da lama, ajudando a planta a 'respirar'.
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Embora protegido por lei, o manguezal ainda sofre com a destruição gratuita, poluição doméstica e química das águas, derramamentos de petróleo e aterros mal planejados.De acordo com a Lei Federal n.º4771 o manguezal é , Área de Preservação Permanente. Porém, apesar disso, este importante ecossistema continua sendo ameaçado, principalmente devido à falta de fiscalização e de planos de recuperação por parte das autoridades competentes.
A baixa
diversidade da flora do manguezal, em contraste com a mata atlântica, por
exemplo, se deve às condições abióticas às quais este ecossistema está
submetido. Poucas espécies apresentam adaptações para sobreviver num ambiente
com uma série de características estressantes como o manguezal. Por estar
recebendo influência de água salobra, tanto as águas quanto o sedimento apresentam
altos teores de sal, que são incorporados pelos organismos. O sal se estiver
muito concentrado, pode se tornar tóxico para esses organismos, principalmente
para as plantas.
As
espécies vegetais do manguezal apresentam adaptações para eliminar o excesso de
sal através de estruturas chamadas glândulas de sal presentes em suas folhas.
Quem estiver visitando um manguezal, pode verificar este fato lambendo uma
folha de mangue e sentindo o gosto de sal. Outro fator ambiental limitante para
as plantas é a falta de oxigênio no solo. Além do solo ser compacto em virtude
do pequeno tamanho dos grãos, o sedimento, permanece submerso pela maré cheia
durante boa parte do dia. As raízes dos mangues, por estarem submersas, teriam
dificuldade de absorver oxigênio, já que este gás está muito mais presente no
ar do que na água. Porém, os mangues apresentam raízes peculiares que garantem
a sua sobrevivência: raízes aéreas. No mangue preto e no mangue branco, raízes
chamadas pneumatóforos emergem de baixo do sedimento em direção ao ar, de
maneira que mesmo durante a maré cheia as extremidades das raízes ficam
expostas ao ar possibilitando as trocas gasosas por parte das plantas. Já o mangue
vermelho apresenta expansões no caule principal contendo lenticelas, que são buracos
por onde são feitas as trocas gasosas.
As raízes
dos mangues são de fundamental importância para segurar o sedimento junto à
margem, impedindo a erosão e um consequente assoreamento dos rios e canais os
quais margeiam. As plantas do manguezal apresentam outra importante
característica fundamental na sua sobrevivência: a viviparidade. Ao contrário
da maioria das espécies vegetais, onde a semente germina no solo, as sementes
do mangue germinam ainda presas à planta mãe, formando uma estrutura chamadas
propágulos. Quando atingem determinado tamanho, estes propágulos caem da planta
se fixando no sedimento ou então são dispersos pela água até se fixarem em
outro local. Esta adaptação é importante pois uma semente dificilmente
germinaria num solo pouco oxigenado e constantemente inundado, além do que a
jovem planta teria dificuldade de se fixar num sedimento frequentemente
invadido pelo movimento das marés.
O melhor uso para qualquer manguezal é continuar como área protegida,mantendo valores culturais, estéticos, paisagísticos, recreacionais, educacionais, estabilização da linha de costa, proteção da vida e dos recursos pesqueiros (MACIEL, 1987).
Referencias
bibliográficas
LACERDA, L.D. 1984: manguezais: floresta de beira-mar. Rev.
Ciência Hoje, v.3, n013.
LARCHER,
Walter., 1986. Ecofisiologia
Vegetal. EPU Editora Pedagógica e Universitária Ltda.
MACIEL, N.C., 1987. Os
manguezais e as unidades de preservação
no Brasil. Simpósio sobre Ecossistemas da Costa Sul e Sudeste Brasileira: síntese dos conhecimentos.
SCHAEFFER-NOVELLI, Y. & CINTRÓN, G. 1986: Guia para Estudos de
Áreas de manguezal: estrutura, função & flora. São Paulo,
Carribean Ecol. Research, 150 p. e 3
apêndices.JOLY, AYLTHON BRANDÃO: Botânica, Introdução à taxonomia vegetal , Ed.
Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1991 – 10ª Edição.
SCHAEFFER-NOVELLI, Y., 1989: Perfil dos ecossistemas litorâneos
brasileiros, com especial ênfase sobre o sistema manguezal. Publ. Especial
do Inst. Oceanogr., São Paulo.
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