quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Ecologia dos Manguezais


Os manguezais são ecossistemas particulares e únicos que se originam do encontro da água salgada do mar e a água doce de diversas fontes, formando uma água salobra, acontecendo em todo o planeta em regiões de clima tropical. Os manguezais se formam exclusivamente nas regiões costeiras e a salinidade das suas águas é variável em cada região. A legislação ambiental do Brasil protege as áreas de manguezais, pois eles são considerados de grande importância para a vida marinha, servindo como berçário natural para diversas espécies marinhas, rota migratória para diferentes espécies de aves, além de oferecer abundante alimento para peixes e aves além de matérias orgânicas e nutrientes que enriquecem as águas marinhas. No Brasil, os manguezais ocorrem desde o Cabo Orange no Amapá, até a cidade de Laguna em Santa Catarina. No passado, a extensão dos manguezais brasileiros era muito maior: muitos portos, indústrias, loteamentos e rodovias costeiras foram desenvolvidos em áreas de manguezal. Os manguezais não são muito ricos em espécies, porém, destacam-se pela grande abundância das populações que neles vivem. Por isso podem ser considerados uns dos mais produtivos ambientes naturais do Brasil.
Devido à riqueza de matéria orgânica disponível, uma grande variedade de seres vegetais e animais irão utilizá-la: centenas de diferentes tipos de minúsculos seres, denominados plâncton. A fração vegetal do plâncton, denominada fitoplâncton, retira os sais nutrientes da água e, através da fotossíntese, cresce e se multiplica. Agora, a porção animal do plâncton, o zoo-plâncton, alimenta-se das microalgas do fitoplâncton e de matéria orgânica em suspensão. Larvas de camarões, caranguejos e siris filtram a água e retiram microalgas e matéria orgânica. Pequenos peixes filtradores, como a manjuba, também se alimentam desse rico caldo orgânico. A partir das microalgas, se estabelece uma complexa teia alimentar.
A flora e a fauna dos manguezais é bastante típica. A vegetação apta às condições de maré cheia e vazante, sendo formada por arvores como o mangue vermelho que se encontram nos mangues em todo o mundo além de algumas outras raras espécies de arvores. Existe uma grande riqueza de matéria orgânica que comporta uma complexa cadeia alimentar. Muitos animais se reproduzem se alimentam e/ou crescem nos mangues como os camarões, algumas espécies de peixes como tainhas e robalos. Muitas aves também procuram os mangues para procriar, outras para se alimentar ou descansar nos seus vôos migratórios. Pela sua riqueza, diversidade e condições naturais os manguezais são considerados como um dos ecossistemas mais produtivos do Brasil.

Pneumatóforos
Poucas plantas estão aptas a sobreviver em um local inundado pelo mar e com pouco oxigênio, mas isso não impede que florestas cresçam na água salobra. Os manguezais têm diferentes tipos de árvores, como o mangue vermelho (Rhizophora mangle), mangue branco (Laguncularia racemosa), mangue preto (Avicennia sp) e o mangue botão(Conocarpus erectus). Em apenas cinco anos, uma árvore de mangue fica adulta e reproduz, podendo chegar a 20 metros de altura. Suas raízes são capazes de passar períodos ficando cobertas pela água do mar e conseguir o oxigênio que não encontram no solo. É o caso das raízes chamadas 'pneumatóforos', que deixam uma ponta fora da lama, ajudando a planta a 'respirar'.
 

 
Quanto à fauna, destacam-se as várias espécies de caranguejos, formando enormes populações nos fundos lodosos. Nos troncos submersos, vários animais filtradores, tais como as ostras, alimentam-se de partículas suspensas na água. Os caranguejos em sua maioria são ativos na maré baixa, enquanto os moluscos alimentam-se durante a maré alta. Uma grande variedade de peixes penetra nos manguezais na maré alta. Muitos dos peixes que constituem o estoque pesqueiro das águas costeiras dependem das fontes alimentares do manguezal, pelo menos na fase jovem. Diversas espécies de aves comedoras de peixes e de invertebrados marinhos nidificam nas árvores do manguezal. Alimentam-se especialmente na maré baixa, quando os fundos lodosos estão expostos.
Caranguejos, como o guaiamum, o caranguejo uça e o aratu,  são de fundamental importância para a ciclagem de nutrientes do ecossistema. Alimentam–se de folhas que caem das árvores, retalhando-as e possibilitando o ataque por bactérias decompositoras que tornarão os nutrientes novamente disponíveis para as plantas. Além disso, os túneis cavados pelos caranguejos são importantes para a aeração do solo. Muitos outros animais também são encontrados no manguezal, como caramujos, ostras, mexilhões, poliquetas e diversas espécies de peixes. Muitos animais de outros ecossistemas utilizam o manguezal para obterem seu alimento. Mamíferos, como a lontra e guaxinim, visitam os manguezais durante a noite para caçarem caranguejos e outros invertebrados. Algumas espécies de aves também se alimentam de peixes, caramujos e poliquetas, como é caso do maçarico, por exemplo, uma ave migratória do hemisfério norte que habita os Estados Unidos e o Canadá. Durante o inverno nesses países, os maçaricos migram para áreas mais quentes como o Brasil, onde então descansam e se alimentam nos manguezais.
Embora protegido por lei, o manguezal ainda sofre com a destruição gratuita, poluição doméstica e química das águas, derramamentos de petróleo e aterros mal planejados.De acordo com a Lei Federal n.º4771 o manguezal é , Área de Preservação Permanente. Porém, apesar disso, este importante ecossistema continua sendo ameaçado, principalmente devido à falta de fiscalização e de planos de recuperação por parte das autoridades competentes.
A baixa diversidade da flora do manguezal, em contraste com a mata atlântica, por exemplo, se deve às condições abióticas às quais este ecossistema está submetido. Poucas espécies apresentam adaptações para sobreviver num ambiente com uma série de características estressantes como o manguezal. Por estar recebendo influência de água salobra, tanto as águas quanto o sedimento apresentam altos teores de sal, que são incorporados pelos organismos. O sal se estiver muito concentrado, pode se tornar tóxico para esses organismos, principalmente para as plantas.
As espécies vegetais do manguezal apresentam adaptações para eliminar o excesso de sal através de estruturas chamadas glândulas de sal presentes em suas folhas. Quem estiver visitando um manguezal, pode verificar este fato lambendo uma folha de mangue e sentindo o gosto de sal. Outro fator ambiental limitante para as plantas é a falta de oxigênio no solo. Além do solo ser compacto em virtude do pequeno tamanho dos grãos, o sedimento, permanece submerso pela maré cheia durante boa parte do dia. As raízes dos mangues, por estarem submersas, teriam dificuldade de absorver oxigênio, já que este gás está muito mais presente no ar do que na água. Porém, os mangues apresentam raízes peculiares que garantem a sua sobrevivência: raízes aéreas. No mangue preto e no mangue branco, raízes chamadas pneumatóforos emergem de baixo do sedimento em direção ao ar, de maneira que mesmo durante a maré cheia as extremidades das raízes ficam expostas ao ar possibilitando as trocas gasosas por parte das plantas. Já o mangue vermelho apresenta expansões no caule principal contendo lenticelas, que são buracos por onde são feitas as trocas gasosas.
As raízes dos mangues são de fundamental importância para segurar o sedimento junto à margem, impedindo a erosão e um consequente assoreamento dos rios e canais os quais margeiam. As plantas do manguezal apresentam outra importante característica fundamental na sua sobrevivência: a viviparidade. Ao contrário da maioria das espécies vegetais, onde a semente germina no solo, as sementes do mangue germinam ainda presas à planta mãe, formando uma estrutura chamadas propágulos. Quando atingem determinado tamanho, estes propágulos caem da planta se fixando no sedimento ou então são dispersos pela água até se fixarem em outro local. Esta adaptação é importante pois uma semente dificilmente germinaria num solo pouco oxigenado e constantemente inundado, além do que a jovem planta teria dificuldade de se fixar num sedimento frequentemente invadido pelo movimento das marés.
O melhor uso para qualquer manguezal é continuar como área protegida,mantendo valores culturais, estéticos, paisagísticos, recreacionais, educacionais, estabilização da linha de costa, proteção da vida e dos recursos pesqueiros (MACIEL, 1987).
 
Referencias bibliográficas
LACERDA, L.D. 1984: manguezais: floresta de beira-mar. Rev. Ciência Hoje, v.3, n013.
LARCHER, Walter., 1986. Ecofisiologia Vegetal. EPU Editora Pedagógica e Universitária Ltda.
MACIEL, N.C., 1987. Os manguezais e as unidades de  preservação no Brasil. Simpósio sobre Ecossistemas da Costa Sul e Sudeste  Brasileira: síntese dos conhecimentos.
SCHAEFFER-NOVELLI, Y. & CINTRÓN, G. 1986: Guia para Estudos de Áreas de manguezal: estrutura, função & flora. São Paulo, Carribean  Ecol. Research, 150 p. e 3 apêndices.JOLY, AYLTHON BRANDÃO: Botânica, Introdução à taxonomia vegetal , Ed. Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1991 – 10ª Edição.
SCHAEFFER-NOVELLI, Y., 1989: Perfil dos ecossistemas litorâneos brasileiros, com especial ênfase sobre o sistema manguezal. Publ. Especial do Inst. Oceanogr., São Paulo.
 
 
 
 
 
 

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