Desde a sua apresentação em “A origem das espécies” a teoria darwinista da evolução sofreu distintas alterações. Apesar de tais modificações, uma série de legados dos trabalhos de Darwin continuar a ser central no pensamento evolutivo até hoje, tais como: os argumentos convincentes sobre a realidade da transformação das espécies ao longo do tempo, ou seja, sobre a idéia de evolução; a proposta da seleção natural como mecanismo da mudança evolutiva, cuja autoria ele compartilha com o naturalista Alfred Russel Wallace; e a idéia de ancestralidade comum e, logo, a narrativa da evolução como um processo aberto, sem meta ou objetivo definido, que se mostra uma das contribuições de Darwin de apreensão mais difícil (ALMEIDA E EL-HANI, 2010).
Todas as teorias têm um substrato filosófico, inclusivamente as experimentais, o próprio conceito de percepção é um conceito típico estudado pela filosofia. Numa teoria da evolução, diretamente relacionada com o conceito da vida, esta dualidade manifestar-se mais abertamente. O problema que deu inicio as investigações epistemológicas de Karl Popper advêm da demarcação entre ciência empírica e pseudo-ciência. Para Popper teorias científicas são refutáveis, permitem em sua estrutura que haja meios empíricos de refutação, em outras palavras, permitem o teste de suas aplicações. Por outro lado, teorias não-científicas são chamadas de metafísicas, pois sua estrutura não permite falseamento, refutação ou teste (CHALMERS, 1993).
O darwinismo, seguindo uma visão popperiana, é quase tautológico. A teoria evolutiva afirma que os mais aptos ou adaptados a um ambiente tendem a sobreviver e se reproduzir em maior número, transmitindo assim a seus descendentes suas características. Os mais aptos são definidos como aqueles que têm sobrevivido com maior freqüência. O enunciado do darwinismo “os mais aptos tendem a sobreviver” será então tautológico, pois se substituirmos “mais aptos” por sua definição em curso, obtém-se: “ aqueles que têm sobrevivido com maior frequência tendem a sobreviver”. Afirmar uma tautologia é afirmar algo como “as mesas são mesas” ou “as pedras pesadas são pedras pesadas”. Uma teoria construída sobre tautologias não tem poder explicativo. Por esse motivo, o darwinismo também não tem poder de antecipação. Se uma geração até agora sobrevivente não sobreviver para além dela é porque não se adaptou às novas condições ambientais. A aptidão é relativa somente às condições existentes não podendo-se afirmar nada além de algo como “os que são aptos aqui e agora sobrevivem aqui e agora ”. Seguindo este pensamento critico, é possível salientar os graves defeitos das formulações básicas da teoria evolutiva e negar-lhe a cientificidade.
A biologia darwiniana é um processo análogo ao processo de conjecturas e refutações, defendido por Popper na epistemologia. O ponto central entre a epistemologia popperiana e a teoria darwiniana é a criação e sua seleção pelo ambiente externo. Deste modo o darwinismo pode tomar feições de uma teoria do conhecimento e do aprendizado não indutivo, onde o problema da sobrevivência é um problema de conhecimento do ambiente externo. Assim, o darwinismo se mostra como uma teoria do aprendizado não-indutivo, que pode ser identificado ao método de conjecturas e refutações que caracteriza a epistemologia popperiana, podendo-se estabelecer uma relação entre o darwinismo como metafísico e a lógica popperiana. Assim o sucesso do darwinismo deve-se justamente a inserção na epistemologia, porque sua formulação “lógica” é idêntica ao processo hipotético-dedutivo de conjecturas e refutações.
Como uma teoria científica, o darwinismo pretende dar uma explicação da variação orgânica dos seres vivos frente ao ambiente. A pretensão de cientificidade da teoria evolutiva não pode ser satisfeita pelo simples motivo de que ela não faz predições e, portanto, não se expunha à refutação, ao teste empírico. Assim sendo, o darwinismo, em última instância, poderia ser caracterizada somente como uma teoria metafísica. Sendo uma teoria metafísica, o darwinismo não pode ser refutado. Entretanto, ele pode ser discutido e avaliado criticamente.
O darwinismo, embora irrefutável, se constitui na melhor resposta que se tem para explicar os fenômenos relacionados aos seres vivos. Ele se mostra mais adequado e frutífero que, por exemplo, a igualmente metafísica e irrefutável, teoria do criacionismo. Sob a inspiração darwiniana, biólogos têm tido sucesso em criar teorias testáveis e em explicar satisfatoriamente antigos problemas.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
Almeida, A.M.R. de, El-Hani, C.N. Um exame histórico-filosófico da biologia evolutiva do desenvolvimento; Sci. stud. vol.8 no.1 São Paulo, 2010. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1678-31662010000100002 <Acessado em: 01.04.12>
Chalmers, A.F., O que é ciência afinal?, 1. Ed.- São Paulo: Brasiiense, 1993; tradução: Raul Fiker. Disponível em: http://www.uel.br/projetos/ibe/pages/arquivos/Chalmers%20-%20O%20que%20e%20ciencia%20afinal%20%28I%20ao%20IV%29.pdf <Acessado em: 02.03.12>
Karl Popper contra a Teoria da Evolução – Método cientifico contra as insanidades Darwinistas, 2010. Disponível em: http://seteantigoshepta.blogspot.com.br/2010/08/karl-popper-contra-teoria-da-evolucao.html <Acessado em 15.03.12>
Stubert, w.r, “Explicação causal e indeterminismo na filosofia de Karl Popper”, Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2007, (Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre do Curso de Mestrado em Filosofia do Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná). Disponível em: http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/handle/1884/13400/Willian-dissert.pdf;jsessionid=6DD4CE393B6E244C8B391145A0353E96?sequence=1< Acessado em: 01.04.12>
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