quinta-feira, 25 de abril de 2013

Coleções Botânicas

 
Coleções biológicas constituem uma das fontes mais importantes de informações básicas da diversidade biológica, por representarem centros de documentação detalhada e correta sobre os componentes da biodiversidade. Além de base do conhecimento científico, as coleções biológicas apresentam valor histórico e cultural das ciências naturais, fornecendo subsídios para o atendimento à demanda de informações visando à avaliação de impactos ambientais, definição de áreas de preservação e legislação ambiental, dentre outros aspectos (Causey et al., 2004; Chavan &Krishnan, 2003).
 
Apenas muito recentemente está sendo providenciado, no Brasil, o levantamento adequado das coleções de vegetais avasculares (algas e briófitos) e fungos depositadas em museus e herbários e em coleções de cultura. Dentre as coleções herborizadas, pouco se conhece sobre quais são destinadas apenas a estudo e quais as de referência. Sabe-se apenas que as maiores e melhores coleções são, em nosso país, de propriedade dos governos federal, estadual e mesmo municipal (Bicudo et al., 1998).
 
Existem 114 herbários ativos no Brasil, dos quais 23 têm mais de 50 mil exemplares de vegetais vasculares, dos quais cerca da metade detém menos de 20 mil exemplares, totalizando um acervo de pouco mais de 5 milhões de espécimes de plantas (Peixoto & Morim, 2004).  Do total de herbários ativos, 59 contam com coleções de vegetais avasculares: 19 com coleções de algas, 28 com fungos (desses, 12 também com fungos liquenizados) e, 45 com briófitos (Alves-da-Silva, 2005; Costa& Porto, 2003; Figueiredo & Ribeiro, 2005; Maia, 2003; Marcelli, 1997).
 
A taxonomia biológica é a ciência que mais diretamente lida com a biodiversidade, especialmente nos níveis de espécies, e também com a diversidade genética. Até recentemente, taxonomistas tinham sua notoriedade apenas entre os seus pares, embora o seu trabalho, desde Lineu, na segunda metade do século XVIII, tenha sido considerado de grande importância e suporte indispensável para uma grande variedade de propósitos. Além do labor de colecionamento, identificação, descrição, estudos da biologia e interrelacionamento entre os táxons, esses cientistas são, de modo geral, chamados para opinarem e emitirem laudos sobre a biodiversidade.
 

Principais tipos botânicos

  • Espermateca e Carpoteca - sementes e frutos, respectivamente
  • Xiloteca -  amostras de madeira dessecadas
  • Laminoteca - lâminas com cortes histológicos
  • Palinoteca - lâminas com grãos de pólen
  • Micoteca - fungos
  • Fototeca - fotografias dos material botânico
  • Jardim botânico- agrupam coleções documentadas de plantas vivas para fins de pesquisa, conservação, exposição e instrução científica
  • Herbário -  coleção dinâmica de plantas secas prensadas
 
         A Espermateca e a Carpoteca são coleções científicas de sementes e frutos, respectivamente. Estas coleções constituem instrumentos essenciais a investigação científica nas áreas da biologia, paleobotânica e botânica forense, para identificação rigorosa de frutos e sementes.
 
A montagem de uma carpoteca ou de um espermateca  inclui a coleta e armazenamento de frutos de consistência seca e carnosa e das sementes , porém esses devem ser armazenados de maneira adequada, descrita em metodologia. A existência de uma carpoteca é imprescindível para pesquisas e estudos, servindo como ferramenta para taxonomistas, sistematas e estudantes em geral, pois o fruto pode ser a parte do material que difere uma espécie de outra. (Potiguara et al , 2001).
A estrutura anatômica da madeira contribui significativamente para o reconhecimento de árvores e arbustos para fins de pesquisas taxonômicas ou filogenéticas, principalmente quando o material reprodutivo (flores e/ou frutos) é ausente ou escasso. Neste contexto, as xilotecas representam uma importante fonte de informação para o pesquisador, fornecendo possiblidades de identificação e resgate de dados sobre procedência, coletores etc.

Xiloteca é uma coleção de amostras de madeiras oriundas de uma ou de diferentes regiões geográficas, que serve de referência para identificação de outras madeiras. Seu âmbito pode ser local, regional, nacional ou mundial. Mas, uma xiloteca não é, apenas, um instrumento de consulta ou um banco de informações sobre madeiras. É, também, uma fonte de material importante para auxiliar profissionais de diversas áreas, tanto nacionais quanto estrangeiros, na solução de problemas taxonômicos,  anatômicos, filogenéticos, ecológicos, tecnológicos, silviculturais, de manejo e inventários florestais.

A palinoteca constitui uma coleção de grãos-de-polén que são catalogados, identificados e preservados em acervo depositado em Herbários.

Para o estudo palinológico, há necessidade somente da membrana externa (exina), que é quimicamente muito estável e morfologicamente muito variada, permitindo uma grande diversidade de estudos taxonômicos, morfológicos e paleobotânicos. O método usual para preparação dos grãos (acetólise) pode ser usado para pólen fóssil ou atual (fresco ou de herbário). Ao se processar acetólise da esporopolenina, proteína formadora da exina, são destruídas simultaneamente a membrana interna intina e o conteúdo celular, o grão se torna transparente, tornando possível o exame dos detalhes em imersão e uma vez acetolisada a membrana fica quimicamente estável.

 
As laminotecas são coleções de lâminas histológicas permanentes, são uma ótima forma de estudar aspectos microscópicos dos seres vivos e conservar estruturas para futuros estudos biológicos.

 
Os fungos são considerados hoje um grupo à parte dos vegetais, entre os quais foram tradicionalmente incluídos. Considerando que em muitos aspectos são semelhantes às plantas, era natural que assim fossem tratados. Ademais, os primeiros botânicos estudavam indistintamente plantas e fungos. No Brasil, os coletores que vieram explorar a nossa flora coletavam também fungos, enviando-os para serem estudados e identificados na Europa. No entanto, com a ampliação dos conhecimentos, as evidencias demonstraram a natureza diferenciada de fungos e plantas, o que levou à separação desses organismos em diferentes reinos (Plantae e Fungi). Com os avanços, inicialmente no campo da microscopia eletrônica e depois na biologia molecular, mesmo os organismos considerados genericamente entre os fungos foram distribuídos em grupos à parte, sendo por isso aceito hoje (Kirk et al. 2001) que muitos estão distribuídos em reinos diversos (Chromista e Protozoa).

 Além da grande diversidade de espécies, um dos fatores que contribuem para o número relativamente pequeno de registros de fungos é a dificuldade para identificação, considerando a peculiaridade de cada grupo. Pela estrutura morfológica, e pelas estruturas reprodutivas, bastante diversificadas, o estudo taxonômico dos fungos requer conhecimento muito especializado e treinamento por vezes demorado. No mundo inteiro, o número de micologistas está muito aquém do necessário para se fazer uma avaliação mais aproximada da real diversidade de espécies fúngicas. Se há poucos especialistas, a possibilidade de formação de novos estudiosos em taxonomia de fungos também fica limitada.
Em relação a coleções de fungos, há dois tipos: aquelas com fungos vivos (coleções de cultura) e as com fungos herborizados (herbários), sendo que apenas o último tipo será aqui abordado. Os fungos mantidos em coleções de cultura serão tratados juntamente com as demais coleções de microrganismos, considerando que os mantidos em cultura na maioria são microscópicos.  Tais coleções na maioria das vezes, estão em herbários que também guardam plantas, ficando obviamente essas coleções, botânicas e micológicas, em setores separados. Ressalta-se que em alguns dos herbários os registros são feitos de modo peculiar: como alguns substratos (folhas, galhos, etc.), podem abrigar vários fungos ou liquens, é preciso identificar e registrar cada um separadamente. Portanto, tem-se um número para a exsicata (folha, por exemplo, com os diversos fungos e/ou liquens) e outro para o fungo identificado.


Os jardins botânicos são instituições que agrupam coleções documentadas de plantas vivas para fins de pesquisa, conservação, exposição e instrução científica.

  Um jardim botânico é normalmente uma área delimitada em meio ao espaço urbano, destinada ao cultivo, manutenção, conservação e divulgação de vegetação ,tanto nativas quanto exóticas, além de empreender pesquisas em Botânica. Nestes espaços, as numerosas espécies e variedades de plantas selvagens e hortícolas cultivadas encontram-se estritamente identificadas e catalogadas.

  Geralmente, os jardins botânicos dispõem de instalações adequadas para a conservação de espécies exóticas que não são aptas ao clima local. As estufas, por exemplo, protegem as plantas que não toleram climas frios, proporcionando-lhes os fatores que favorecem o crescimento: ar, umidade, calor, luz, etc.


Herbário é o nome utilizado para designar uma coleção de amostras de plantas desidratadas, as quais são coletadas, preparadas, tratadas, catalogadas e armazenadas segundo técnicas específicas.
Os herbários abrigam uma grande quantidade de informação e dados sobre a diversidade vegetal, tais como a conservação, ecologia, fisiologia, farmacologia e agronomia, a fim de que possa ser estudada a recuperação da vegetação, das paisagens degradadas e para que se incremente a resistência a pragas, o melhoramento vegetal, a extração de produtos farmacêuticos e outros. 


Estas coleções de espécies de plantas secas são cuidadosamente pressionadas e coladas em papel pesado. Estas espécies encontram-se devidamente catalogadas e identificadas com informação acerca das plantas e o local onde foram colhidas. Aliás, num herbário, a sua coleção está em constante atualização. Regularmente são feitas novas colheitas de exemplares, acompanhadas com informações adicionais sobre a evolução do habitat, do clima, da vegetação, e outras informações que se considerarem relevantes. Se corretamente conservadas, um espécie-tipo pode durar centenas e de anos. Assim sendo uma espécie de planta num herbário é uma fonte insubstituível de registo da biodiversidade das plantas e serve como referência a muitas e variadas funções, incluindo identificação, pesquisa e educação.

Todo material envolvendo a flora de uma região necessita de identificação das espécies botânicas estudadas e, para isso, o material coletado precisa ser depositado em herbário ou xiloteca para identificação. O herbário, juntamente com a xiloteca, são as coleções básicas para a realização de estudos botânicos, sem estas fica difícil alcançar os objetivos propostos, principalmente quando o material de herbário é estéril. Por isso, é imprescindível a identificação pela anatomia.


 
 

Bibliografia

Alves-da-Silva, S.M. 2005. Avaliação preliminar das coleções de diatomáceas no Brasil. In: REUNIÃO BRASILEIRA DE FICOLOGIA, 10., 2004, Salvador. Formação de Ficólogos: um compromisso com a sustentabilidade dos recursos aquáticos: anais... Rio de Janeiro: Museu Nacional. p. 175-190. Org. Sociedade Brasileira de Ficologia (Série Livros; 10).

Bicudo, C.E.M.; Menezes, M.; Cordeiro, I.; Menezes, N.A.; Sendacz, S. & Vuono, Y.S. 1998. Identificação, monitoramento, avaliação e minimização de impactos negativos. Versão do texto sobre Estratégia Nacional de Diversidade Biológica. MMA/FNMA/GEF. Campinas, BDT, Fundação André Tosello. http://www.bdt.org.br/publicaçoes/política/gtt/gtt1

Causay, D.; Janzen, D.H.; Peterson, A. T.; Vieglais, D.; Krishtalka, L.; Beach, J.H. & Wiley, E.O. 2004. Museum collections and taxonomy. Science 305: 1105-1107.

Chavan, V. & Krishnan, S. 2003. Natural history collections: a call for national information infrastructure. Current Science 84 (1): 34-42.

Costa, D.P. & Porto, K.C. 2003. Estado da arte das coleções de briófitas no Brasil. In: Peixoto, A.L. (org.). Coleções biológicas de apoio ao inventário, uso sustentável e conserva,cão da biodiversidade. Rio de Janeiro, Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro. p.75-98.

Figueiredo, M. A. de O. & Ribeiro, C. M. 2005. Coleções de macroalgas marinhas em herbários brasileiros. In: REUNIÃO BRASILEIRA DE FICOLOGIA, 10., 2004, Salvador. Formação de Ficólogos: um compromisso com a sustentabilidade dos recursos aquáticos: anais... Rio de Janeiro: Museu Nacional. p. 191-198. Org. Sociedade Brasileira de Ficologia (Série Livros; 10).

Fonseca, C.N.,  Lisboa, P.L.,Urbinati, C.V.,  A Xiloteca (Coleção Walter A. Egler) do Museu Paraense Emílio Goeldi, Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Ciências Naturais, Belém, v. 1, n. 1, p. 65-140, jan-abr. 2005

Maia, L.C. 2003. Coleções de fungos nos herbários brasileiros: estudo preliminar. Pp.21-40. In: Peixoto, A.L. (Org.). Coleções biológicas de apoio ao inventário, uso sustentável e conservação da biodiversidade. Rio de Janeiro, Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

Marcelli, M.P. 1997. Estudo da diversidade de espécies de fungos liquenizados do Estado de São Paulo.  SP: http://www.biota.org.br/info/historico/workshop/revisoes/liquens

Norton, T.A., Melkonian, M. & Andersen. R.A. 1996. Algal biodiversity. Phycology 35 (4): 308-326

POTIGUARA, R. C.V. et al.Carpoteca: a coleção de frutos Paulo Bezerra Cavalcante- Minas Gerais. 2001.

2 comentários:

  1. Amostras de fungos também podem ser colocadas em envelopes, feitos com papel
    manteiga. Estruturas microscópicas podem ser preservadas em lâminas semipermanentes
    com PVLG (álcool-polivinílicolactoglicerol) e colocadas em laminário.

    ResponderExcluir